Droga para diabetes ganha versão para tratar obesidade
NOSSO RESUMO
A matéria publicada na Folha de São Paulo apresenta o medicamento Saxenda. Não se trata de um novo medicamento, mas sim de uma nova indicação de uso para um medicamento já aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com a matéria, o Saxenda é a primeira droga aprovada contra a obesidade, no Brasil, desde 1998.
Segundo os resultados apresentados, o medicamento tem indicação para adultos com Índice de Massa Corpórea (IMC) de 30 ou mais ou com IMC de 27 ou mais desde que haja pelo menos outra doença associada à elevação do peso. No entanto, não foram apresentados dados nacionais e internacionais que destacam a importância epidemiológica da obesidade.
Os custos do medicamento não foram discutidos pois, segundo dados publicados na matéria, o preço para o mercado brasileiro ainda não está definido. Além disso, a disponibilidade do medicamento no Brasil também não está clara. Apesar de ser informada a aprovação pela Anvisa, não há relato sobre o possível financiamento do tratamento pelo SUS e do seu fornecimento por planos de saúde ou pelo mercado privado.
POR QUE ESSE TEMA É IMPORTANTE?
A obesidade é uma das principais causas de morte evitáveis em todo o mundo. Além disso, aumenta o risco de diversas complicações físicas e psicológicas. Em cada ano, morrem 3,4 milhões de adultos em consequência da obesidade ou do sobrepeso.
Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa que revela que quase metade da população brasileira está acima do peso. Segundo dados publicados, 42,7% da população estava acima do peso no ano de 2006. Em 2011, esse número passou para 48,5%. A obesidade acometeu um em cada cinco brasileiros de 18 anos ou mais em 2013 (20,8%), sendo que o percentual é mais alto entre as mulheres (24,4% contra 16,8% dos homens).
Devido à sua alta prevalência, a obesidade é um problema de saúde pública , sendo fundamental a disponibilização de alternativas eficazes de tratamento para a população.
Olhar Jornalístico
TÍTULO: O título chama atenção para o uso de medicamentos para diabetes com finalidade de emagrecimento. Isso desperta a atenção do leitor uma vez que já houve uma procura por medicamentos para o controle de diabetes por quem quer emagrecer.
INTERTÍTULO: Traz a informação da aprovação pela ANVISA de um medicamento, com princípio ativo para o controle da diabetes, mas agora com finalidade de emagrecimento. O destaque de que essa é a nova droga aprovada no Brasil desde 1998 desperta a atenção do leitor, uma vez que nos último anos tem sido intenso o posicionamento da ANVISA de tratar com rigor o uso de emagrecedores que, potencialmente, podem trazer mais malefícios (efeitos colaterais importantes) do que benefícios.
COMO ASSUNTO CHEGOU À REDAÇÃO: Alguma nota ou comunicado oficial da ANVISA, release da empresa farmacêutica ou informações passadas por fontes atentas ao assunto como médicos da Sociedade Brasileira de Endocrinologia.
DEFINIÇÃO: A definição sobre o medicamento foi realizada de forma clara, respeitando as limitações do público alvo (leitor leigo). Explica que o princípio ativo da droga é o mesmo de outro medicamento usado no controle da diabetes. Alerta que a droga contra diabetes foi estudada com outro propósito, agora para o emagrecimento. No entanto, o texto não traz detalhes sobre como foi realizado esse estudo, pontos positivos e negativos dele e nem dados nacionais e internacionais sobre a importância epidemiológica da obesidade. E, talvez por isso é grande a importância de se consultar a fonte da Sociedade Brasileira de Endocrinologia que fez ponderações alertando sobre a necessidade de cautela principalmente para o público que não está enquadrado para o uso desse medicamento.
A reportagem não trouxe outras possibilidades para o emagrecimento (fora a indicação de duas outras drogas já autorizadas pela ANVISA – sibutramina e orlistate, mas sem muito detalhe sobre elas (exceto que há um maior controle por parte do governo para a venda de sibutramina). Também não foi feita uma comparação desses medicamentos já existentes com essa droga recém autorizada pela ANVISA. Sem essa comparação o leitor fica sem base para avaliar qual melhor alternativa, claro junto ao médico que o acompanha. Além disso, não há, na reportagem uma explicação clara ao leitor da disponibilidade da venda do medicamento.
PUBLICIDADE/ INTERESSE COMERCIAL: A matéria não trata do medicamento com sensacionalismo, nem com destaque publicitário. Pelo contrário, traz inclusive de forma cuidadosa alertas sobre os potenciais riscos/danos do medicamento,como possíveis reações adversas e reforça, ainda, a importância de acompanhamento médico constante devido à possibilidade do surgimento de reações adversas comuns e até graves.
FONTES DE INFORMAÇÃO: A reportagem não trouxe fonte da ANVISA, nem da empresa farmacêutica. A única fonte usada para balizar a informação foi um médico representante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Não é possível avaliar se houve conflito de interesse.
RECURSOS VISUAIS: Não foram usados recursos visuais para esta reportagem
CONCLUSÃO: De forma geral, a reportagem procurou tratar o tema de forma bastante cuidadosa. Texto claro e objetivo que dá subsídios ao leitor para entender um pouco mais sobre o princípio ativo, a quem o medicamento é destinado e possíveis reações. Do ponto de vista jornalístico cumpriu a maioria dos critérios de noticiabilidade. E diferentemente de outras reportagens que anunciam novo uso de algum princípio ativo essa não se pautou apenas por fonte da empresa farmacêutica que o produziu, trouxe médico que fez ponderações e orientações importantes ao público leigo.
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