NOSSO RESUMO
A matéria publicada no Jornal O Globo apresenta um biomarcador, a D-serina, para o diagnóstico precoce da Doença de Alzheimer. A pesquisa está sendo conduzida por pesquisadores brasileiros na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que já realizam testes em cobaias e em uma pequena amostra de humanos. Diante dos resultados preliminares obtidos, a continuidade da pesquisa com amostra mais representativa segue em curso, assim como a solicitação de patente do teste.
De acordo com os pesquisadores, o nível de D-serina aumenta com o progresso da doença e está diretamente relacionado com o declínio cognitivo, o que justifica sua utilização como biomarcador. Em todo o mundo pesquisadores buscam por biomarcadores para o Alzheimer, com intuito de melhorar o processo de diagnóstico, que atualmente é apenas clínico. Os potenciais riscos do exame, no entanto, não foram apresentados. Não foram abordados os custos e a possível disponibilidade do teste pelo SUS ou pela inciativa privada.
As evidências científicas apresentadas, apesar de pouco representativas, estão claramente descritas. Entretanto, as limitações da tecnologia não foram apresentadas. Não foi possível, ainda, avaliar a existência de conflitos de interesses.
POR QUE O TEMA É IMPORTANTE?
A Doença de Alzheimer é a principal causa de demência irreversível, responsável por 60-70% dos casos. Estima-se que existam no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a doença. No Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira de Alzheimer, há cerca de 1,2 milhão de casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico (Abraz, 2016). Os sintomas iniciais do Alzheimer, em geral, são confundidos com o processo de envelhecimento normal, o que tende a adiar a busca por orientação profissional e, não raro, a doença é diagnosticada tardiamente. Na prática, o diagnóstico da Doença de Alzheimer é clínico, isto é, depende da avaliação feita por um médico, que irá definir, a partir de exames e da história do paciente, qual a principal hipótese para a causa da demência. Neste contexto, o desenvolvimento e/ou aprimoramento de alternativas diagnósticas têm grande importância, sobretudo para minimizar a progressão dos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Trata-se de uma nova entidade química ou novo produto protegido por patente, com nova indicação terapêutica/preventiva, que pode ser potencialmente aplicada para melhorar sintomas/desfechos?
Satisfatória
Trata-se da possibilidade de utilização da D-serina como biomarcador para a Doença de Alzheimer. O estudo, em curso na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), indica que a dosagem de D-serina no líquor está associada ao progresso da doença, sendo indicado, portanto, para o diagnóstico precoce. Os testes preliminares comprovaram a hipótese levantada pelos pesquisadores, que seguem com o estudo em amostra mais significativa e processo de aquisição da patente de utilização do biomarcador. O método, apesar de invasivo, poderá de fato auxiliar no diagnóstico do Alzheimer.
A(s) indicação(ões) está(ã) claramente descrita(s)?
Satisfatória
A indicação da D-serina foi descrita como biomarcador para o diagnóstico precoce da Doença de Alzheimer. Foram apresentados dados epidemiológicos da doença e informações referentes à dificuldade de diagnóstico, que corroboram tal indicação.
Apresenta dados dos benefícios de forma clara, sem exaltar dados pouco representativos?
Satisfatória
Os benefícios obtidos pela realização do exame como diagnóstico do Alzheimer foram apresentados de maneira clara, indicando que o nível de D-serina aumenta com progresso da doença e está diretamente relacionado com o declínio cognitivo. Apesar dos dados apresentados na matéria terem sido obtidos em uma amostra pequena, é relatada a continuidade da pesquisa com amostras representativas, a fim de comprovar os resultados encontrados. Foram destacados os benefícios obtidos apenas do ponto de vista do diagnóstico, não tendo sido descritos os desfechos relativos à doença, ou seja, em que medida estes resultados impactariam na vida do paciente propriamente dita.
Há relato sobre os custos reais ou prováveis da intervenção, comparando-os com as alternativas existentes, além dos custos adicionais à intervenção?
Não Satisfatória
Não foram apresentados os custos do exame, bem como possíveis custos adicionais relacionados ao mesmo.
Apresenta dados sobre a disponibilidade no mercado brasileiro, incluindo registro na Anvisa, financiamento pelo sus e/ou planos de saúde?
Não Satisfatória
A disponibilidade do exame de D-serina no Brasil não está claramente definida, mas os estudos estão conduzidos no país e é relatada a solicitação de patente pelos pesquisadores ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O possível fornecimento da tecnologia no SUS ou pela iniciativa privada não foi abordado.
Relata a existência de alternativa(s) à intervenção, discutindo as vantagens e/ou as desvantagens da nova tecnologia em comparação com as abordagens existentes?
Satisfatória
A dificuldade de diagnóstico da Doença de Alzheimer é apresentada, destacando-se a inexistência de outros exames que auxiliem neste processo, atualmente pautado apenas na prática clínica médica. Relata-se ainda o desenvolvimento de outras pesquisas no mundo com o intuito de identificar biomarcadores para o diagnóstico da doença, em estágios prévios ao brasileiro.
Descreve os danos reais e/ou potenciais da intervenção (riscos, efeitos adversos ou prejuízos) e sua magnitude?
Não Satisfatória
Os potenciais riscos ou danos do exame não foram claramente descritos. Há apenas uma referência ao fato do método ser invasivo, porém já utilizado para outras enfermidades.
Descreve as fontes de informação utilizadas e identifica conflito de interesses?
Não Satisfatória
As referências à pesquisa, bem como aos entrevistados, estão devidamente identificadas. Entretanto, não se pode afirmar que a matéria é isenta, visto que o autor utiliza fontes ligadas à pesquisa e opinião de especialistas para construir seu texto, bem como não declara a inexistência de conflito de interesses.
Há coerência entre o foco da matéria e as evidências sobre a tecnologia? A linguagem é clara e objetiva, sem sensacionalismo?
Satisfatória
As evidências apresentadas sobre o exame e a doença são coerentes. As informações fornecidas são fidedignas e a utilizada linguagem é clara e objetiva.
Apresenta dados de estudos científicos publicados, informando a referência e discutindo as limitações da evidência?
Não Satisfatória
Apresentou-se um estudo científico publicado em um periódico pertencente à revista “Nature”, conduzido em humanos, mas com uma amostra pouco representativa. Entretanto, é destacada a continuidade da pesquisa com amostra maior de pessoas, a fim de se comprovar a confiabilidade dos resultados obtidos. As limitações da tecnologia, contudo, não foram discutidas, destacando-se apenas seus benefícios.
Olhar Jornalístico
TÍTULO: Valorizar a produção científica brasileira é ressaltada no título com a indicação de uma descoberta que pode ajudar no tratamento do Alzheimer, uma doença que vem chamando a atenção da sociedade devido o envelhecimento da população brasileira.
INTERTÍTULO: Reforça a valorização do trabalho científico pelos pesquisadores da UFRJ e cita que o estudo teve publicação em renomada revista cientifica internacional. Esse tipo de informação, já no início da reportagem, estimula a leitura por indicar elementos no texto que trazem credibilidade e utilidade (algo que pode ajudar no diagnóstico da doença).
COMO A NOTÍCIA CHEGOU À REDAÇÃO: Release da UFRJ, fontes envolvidas no estudo, médicos.
DEFINIÇÃO: A reportagem explica de forma clara que o estudo da quantidade do aminoácido chamado D-serina — responsável pela sinalização das sinapses, pontos de conexão entre os neurônios pode ajudar no diagnóstico do Alzheimer. É descrito também como os cientistas chegaram a esse entendimento e que ainda são necessários ajustes e o cumprimento de todo o processo burocrático para que o método usado pelos pesquisadores seja considerado uma forma de teste para diagnóstico da doença, o que ainda não existe hoje.
FONTES DE INFORMAÇÃO – Pesquisadores envolvidos no estudo.
PUBLICIDADE/ CONFLITO DE INTERESSE: Aparentemente não houve indícios de publicidade.
RECURSOS VISUAIS – Não foram usados infográficos ou ilustrações. Mas as fotos do documentário brasileiro sobre Alzheimer e da artista do filme estrangeiro ajudam a chamar a atenção do leitor para a reportagem.
CONCLUSÃO: A reportagem, embora com finalidade científica, foi escrita elencando a grande representação e preocupação do Alzheimer hoje na sociedade. Tanto que é tema de filmes e documentários e realidade de milhares de famílias pelo mundo, que possuem parentes com a doença.
Deixe uma resposta