Anvisa registra teste rápido para detecção do vírus Zika em até 20 minutos
NOSSO RESUMO
A matéria publicada no Jornal Estado de Minas apresenta um teste diagnóstico rápido para detecção do vírus Zika, produzido pelo laboratório canadense Biocan Diagnostics e com registro aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). De acordo com os dados apresentados, o teste apresenta resultado em 20 minutos e é capaz de detectar a contaminação pelo vírus estando ele ativo ou não. Até a publicação da matéria (fevereiro de 2016), três outros testes rápidos já haviam sido registrados na ANVISA para detecção do Zika, além do exame de PCR que é o mais comumente utilizado para o diagnóstico. A empresa fabricante não informou os custos prováveis, bem como o início da comercialização do teste no Brasil. Os riscos potenciais também não foram descritos. Não foram apresentadas evidências científicas que comprovem os benefícios descritos para o teste diagnóstico, bem como as limitações da tecnologia também não foram descritas. Não há aparente conflito de interesses na construção do texto.
POR QUE ESSE TEMA É IMPORTANTE?
O Zika é um vírus transmitido pelo Aedes aegypti que foi identificado pela primeira vez no Brasil em abril de 2015. Até Outubro de 2016, foi confirmada a transmissão vetorial do vírus Zika em 73 países e territórios no mundo desde 2007, sendo 47 (64%) nas Américas. A população mundial exposta ao vírus Zika é de 1.357.605.792 pessoas, das quais 15,3% são brasileiros. Até outubro de 2016, 9.862 casos foram notificados no Brasil. Desses, 3.035 (31%) casos permanecem em investigação e 6.827 casos foram investigados e classificados, sendo 2.063 confirmados para microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central, sugestivos de infecção congênita e 4.764 descartados (MS, 2016).
As investigações sobre o tema continuam em andamento, a fim de esclarecer questões como a transmissão desse agente, a sua atuação no organismo humano e a infecção de fetos. O desenvolvimento de testes diagnósticos rápidos e que sejam capazes de detectar a contaminação pelo vírus ativo são importantes, dada a semelhança dos sintomas com a Dengue e Chinkungunya, que dificulta o diagnóstico clínico, bem como a relevância da epidemia de Microcefalia, comprovadamente relacionada à infecção pelo Zika.
Olhar Jornalístico
TÍTULO: O título atrai o leitor por trazer palavras como ANVISA (órgão que tem credibilidade para o leitor por autorizar ou não determinada droga ou tecnologia para uso em tratamentos); teste rápido (diante dos riscos da doença testes rápidos ganham interesse do leitor quando contribuem para o diagnóstico ou tratamento de doenças, além disso traz a palavra Zika, uma doença com crescente registro na atualidade e que desperta interesse tanto do público leigo quanto especializado – profissionais da saúde.
INTERTÍTULO: O intertítulo: “Esse é o terceiro teste aprovado pela agência que é capaz de identificar se o paciente teve a doença mesmo após a eliminação do vírus” despertando, assim, a curiosidade ao leitor. Afinal, o que levaria a ANVISA a aprovar três testes com a mesma finalidade? O que este último teste teria de diferente? Talvez mais rápido? O intertítulo parece convidar o leitor a encontrar essas respostas ao ler o texto.
COMO ASSUNTO CHEGOU À REDAÇÃO: Pela forma com que o texto foi escrito sem o posicionamento e outras fontes, aparentemente, o assunto chegou à redação do jornal por meio de release da empresa farmacêutica. Outra possibilidade é o texto ter sido elaborado diretamente pela agência de notícias do governo federal, que encaminhou a informação às redações.
DEFINIÇÃO: A reportagem explica de forma clara e objetiva, com linguagem que respeita o público leitor sem o uso, portanto, de termos demasiadamente técnicos. Há a definição sobre porque o teste rápido é usado e traz dados epidemiológicos sobre a Zika, em especial sobre a microcefalia, má formação em bebês relacionada a infecção do vírus em gestantes. No entanto, a reportagem não traz nenhuma explicação de como são os outros testes já aprovados pela ANVISA. O que este novo teste traz então de diferente? Mais rapidez? Mais eficaz que os outros? Custo mais acessível?
PUBLICIDADE/ INTERESSE COMERCIAL: A empresa farmacêutica que desenvolveu o teste rápido teve espaço para se posicionar na reportagem dizendo que está satisfeita com a aprovação da ANVISA, que o produto desenvolvido por ela parece ser mais rápido (20 minutos) que os demais e mais barato. No entanto, não há uma contrainformação, o que dá margem a uma certa publicidade para a empresa. Além disso, no início da reportagem há informação do nome da empresa farmacêutica.
FONTES DE INFORMAÇÃO: As fontes de informação da reportagem foram: empresa farmacêuticas e agência de informações do governo federal (Agência Brasil). Nesse sentido, jornalisticamente é necessário se avaliar uma “parcialidade” da informação uma vez que a principal fonte ouvida foi a própria empresa que de desenvolveu o teste rápido.
RECURSOS VISUAIS: Não foram usados recursos visuais – infográficos, ilustrações.
CONCLUSÃO: O texto é claro, sem uso exagerado de termos técnico-científicos. Tem o título e intertítulo que atraem a atenção do leitor, principalmente por se tratar de uma assunto de interesse nacional. Contudo, não traz informações mais detalhadas sobre a eficácia de outros testes rápidos já que este seria o quarto autorizado pela ANVISA. A autorização de tantas opções estaria relacionada à promoção da concorrência e mercado? Esses testes serão oferecidos pelo SUS? Questionamentos como estes não foram esclarecidos no texto. Além disso, não foram ouvidos especialistas, como fontes de informação, que pudessem avaliar o novo teste e a eficácia ele.
Além disso, como só a empresa farmacêutica parece ter sido fonte de informações (tanto descrevendo como funciona o teste quanto em nota da BIOCAN) acho indícios de conflito de interesses, mesmo que o jornal ou o jornalista não tenham “ganhado” nada com a divulgação. Esse é um cuidado que os jornalistas que cobrem essa área precisam ter. Segue o preceito básico do jornalismo que é o da checagem de mais de uma fonte para não ficar “refém” apenas da fonte principalmente interessada.
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