Pesquisa sugere ingestão de micronutrientes para tratar depressão e hiperatividade
NOSSO RESUMO
A matéria publicada no Estado de Minas apresenta a possibilidade de tratamento e cura de doenças psiquiátricas por meio do equilíbrio de micronutrientes no organismo, utilizando-se protocolo de tratamento baseado na influência de alimentos e de suplementação sobre a epigenética, processo que regula a atividade dos genes sem alterar o código de DNA. Segundo os dados apresentados, na América do Sul, apenas dois médicos estão aptos a aplicar esta estratégia terapêutica, denominado protocolo de Walsh. Foram apresentadas diferentes opiniões de especialistas sobre a técnica de inclusão de nutrientes no tratamento de transtornos mentais, incluindo resultados científicos de um estudo de acompanhamento de pacientes em uso de micronutrientes associado a medicamentos versus pacientes em uso apenas de medicamentos. No entanto, a matéria não apontou limitações e problemas decorrentes do uso desses micronutrientes a longo prazo, nem tampouco os riscos ou efeitos adversos do seu uso. Os custos do tratamento não foram mencionados e não houve abordagem de custo das outras alternativas de tratamento disponíveis.
POR QUE ESSE TEMA É IMPORTANTE?
Há uma elevada prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) no mundo, variando de 24,6% a 45,3%. Estudos internacionais indicam associação entre o baixo nível socioeconômico e a baixa escolaridade com a ocorrência de TMC. No cenário brasileiro, as pesquisas sobre TMC, realizadas com amostras de municípios brasileiros, apresentaram taxas de prevalência que variaram de 17% a 35% e confirmaram os fatores associados verificados nos estudos internacionais. Além disso, os custos da assistência médica, o tempo de trabalho perdido e a diminuição da qualidade de vida associam-se de forma clara e consistente com transtornos mentais. Apesar de serem normalmente classificados como transtornos crônicos, são condições tratáveis e as opções terapêuticas têm crescido enormemente nos últimos 25 anos. O impacto social dos transtornos mentais inclui tanto a incapacidade individual como o fardo familiar associado à doença. Em função disso, a disponibilização de alternativas de tratamento tornam-se extremamente importantes.
Olhar Jornalístico
TÍTULO: Cuidadoso o título não traz a informação da pesquisa de forma sensacionalista. A utilização de “sugere” mostra a preocupação em não usar, no título, uma confirmação da eficácia do uso dos micronutrientes.
INTERTÍTULO: Informa que a abordagem é polêmica e já define que no Brasil dois médicos usam os micronutrientes como uma forma complementar ao tratamento convencional
COMO ASSUNTO CHEGOU À REDAÇÃO: divulgação em revista científica internacional, agência de notícias ou fonte de informações (provavelmente médico da área da psiquiatria ou nutrição)
FONTE DE INFORMAÇÃO: Além de informações gerais sobre a pesquisa, a reportagem traz contrapontos de diferentes especialistas em relação ao tratamento.
DEFINIÇÃO: O tratamento é escrito de forma clara, com linguagem de fácil compreensão respeitando as limitações do leitor leigo. Traz explicações sobre a abordagem embasadas, inclusive, numa pesquisa feita nos Estados Unidos, onde o protocolo de Walsh já é cumprido. No entanto, não há um maior detalhamento, na reportagem, sobre o perfil dos pacientes pesquisados (idade, qual o transtorno mental). As explicações sobre os nutrientes e sua relação com o comportamento humano só aparecem mais claramente na arte explicativa, com exemplos. Não foram ouvidos pacientes, nem os que já se submeteram ao tratamento no Brasil ou aqueles que participaram por 12 meses dos testes nos Estados Unidos. No entanto, há um apontamento que chama a atenção, quase metade dos pesquisados conseguiu reduzir a quantidade de medicamentos usados para tratar a doença após a ingestão de micronutriente. Como ainda há muita incerteza sobre os benefícios/ resultados desse procedimento a reportagem trouxe especialistas médicos e nutricionistas que fazem ponderações e que acreditam que a estratégia seria usar os micronutrientes para a prevenção das doenças.
PUBLICIDADE/ INTERESSE COMERCIAL: Não há indícios de conflitos de interesse
RECURSOS VISUAIS: Foi usado um esquema didático com informações e definições sobre o tratamento
CONCLUSÃO: A reportagem foi escrita de forma equilibrada buscando evitar sensacionalismo. Com linguagem clara e objetiva ouviu várias fontes de informações com posicionamentos em favor ou contrários à abordagem. Mereceria, no entanto, ouvir ao menos um dos dois médicos brasileiros autorizados a aplicar o protocolo de Walsh. Qual o posicionamento deles? Desde quando aplicam o protocolo? O que os micronutrientes têm oferecido aos pacientes? E os pacientes brasileiros que seguem as recomendações de ingestão de micronutrientes, o que dizem sobre o tratamento? Levantar essas questões e respostas contribuiria ainda mais para a compreensão dessa reportagem.
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