NOSSO RESUMO
A matéria publicada no Jornal O Globo apresenta um exame de sangue que poderá ser utilizado no monitoramento do tratamento do câncer. Em estudo clínico realizado nos Estados Unidos, o teste mostrou-se mais ágil em detectar a recorrência da doença que as alternativas atualmente utilizadas. Segundo os autores, o teste também seria menos oneroso que a biópsia e a topografia computadorizada. Entretanto, os custos reais de nenhuma dos exames alternativos foram apresentados.
O estudo descrito na matéria foi realizado em uma amostra pouco representativa e apenas alguns tipos câncer foram testados, sendo necessárias evidências científicas mais consistentes para se obterem resultados confiáveis e que possam ser extrapolados. Além disso, os potencias riscos do exame não foram discutidos, assim como a disponibilidade do teste no Brasil. As evidências científicas apresentadas, apesar de pouco representativas, foram claramente descritas. Contudo, a linguagem utilizada, ainda que não seja sensacionalista, vale-se de recursos literários que extrapolam o conteúdo abordado. Não foi possível avaliar a existência de conflitos de interesses.
POR QUE ESSE TEMA É IMPORTANTE?
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo. Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Estima-se que no Brasil, em 2016, ocorrerão 675,50 mil novos casos de câncer (INCA, 2016).
O tratamento do câncer pode ser feito através de cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea. Em muitos casos, é necessário combinar mais de uma modalidade e alternar entre as diversas opções disponíveis, visto que os pacientes apresentam respostas distintas a um mesmo tratamento. Neste sentido, inovações que possibilitem um monitoramento ágil e eficaz da terapia poderão permitir um acompanhamento mais efetivo da evolução dos pacientes, favorecendo escolhas mais racionais.
Trata-se de uma nova entidade química ou novo produto protegido por patente, com nova indicação terapêutica/preventiva, que pode ser potencialmente aplicada para melhorar sintomas/desfechos?
Satisfatória
Trata-se de um novo teste sanguíneo que poderá ser utilizado no monitoramento das terapias de câncer. Resultados preliminares demonstraram o potencial da tecnologia em trazer benefício para os pacientes oncológicos, ao permitir uma monitorização mais rápida e menos invasiva do tratamento.
A(s) indicação(ões) está(ã) claramente descrita(s)?
Satisfatória
A indicação do teste sanguíneo no monitoramento do tratamento do câncer foi claramente exposta na matéria. Entretanto, não há nenhum dado epidemiológico relatado que justifique tal indicação.
Apresenta dados dos benefícios de forma clara, sem exaltar dados pouco representativos?
Satisfatória
Os benefícios obtidos pelo exame, nos estudos conduzidos até o momento, foram apresentados de maneira clara, indicando que o teste é capaz de detectar mais rapidamente a recorrência do câncer e/ou o sucesso do tratamento do que as tecnologias disponíveis atualmente. Contudo, os dados são pouco representativos devido ao tamanho da amostra, sendo necessária a condução de estudos clínicos mais robustos e que abordem tipos diversos de câncer. Além disso, a matéria destacou os benefícios obtidos apenas do ponto de vista de monitorização do tratamento, mas não abordou os desfechos relativos à doença, ou seja, em que medida estes resultados impactariam na vida do paciente oncológico.
Há relato sobre os custos reais ou prováveis da intervenção, comparando-os com as alternativas existentes, além dos custos adicionais à intervenção?
Não Satisfatória
Relatou-se que o exame de sangue será menos oneroso que outras alternativas atualmente utilizadas no monitoramento do tratamento do câncer (biópsia e tomografia computadorizada). Porém, não foi descrito o custo real ou provável da tecnologia e outros custos adicionais relacionados à sua utilização.
Apresenta dados sobre a disponibilidade no mercado brasileiro, incluindo registro na Anvisa, financiamento pelo sus e/ou planos de saúde?
Não Satisfatória
A disponibilidade do teste no Brasil, por meio do sistema público de saúde ou pela iniciativa privada, não foi abordada.
Relata a existência de alternativa(s) à intervenção, discutindo as vantagens e/ou as desvantagens da nova tecnologia em comparação com as abordagens existentes?
Satisfatória
Foram apresentadas outras duas alternativas comumente utilizadas no monitoramento do câncer, a biópsia e a topografia computadorizada. Foram descritas as vantagens da nova tecnologia frente às já existentes no que diz respeito ao custo – de modo qualitativo, já que não foram citados valores reais de nenhuma das alternativas – e aos resultados encontrados no estudo clínico realizado, demonstrando que o exame teria um poder de resposta mais rápido. Não foram descritas, no entanto, as desvantagens, assim como não se abordou a inclusão do teste na prática clínica comparativamente às alternativas disponíveis.
Descreve os danos reais e/ou potenciais da intervenção (riscos, efeitos adversos ou prejuízos) e sua magnitude?
Não Satisfatória
Os potenciais riscos ou danos do exame de sangue não foram apresentados.
Descreve as fontes de informação utilizadas e identifica conflito de interesses?
Não Satisfatória
As referências à pesquisa, bem como aos entrevistados, foram devidamente identificadas. Entretanto, não se pode afirma que a matéria é isenta, visto que o autor utilizou fontes ligadas à pesquisa descrita para construir seu texto, bem como não declarou a inexistência de conflito de interesses.
Há coerência entre o foco da matéria e as evidências sobre a tecnologia? A linguagem é clara e objetiva, sem sensacionalismo?
Não Satisfatória
As evidências acerca da tecnologia, embora ainda pouco representativas, indicam que de fato ela poderá auxiliar no monitoramento do câncer. Em relação a sua utilização no diagnóstico precoce, ressaltada no título da matéria, ainda trata-se de uma possibilidade futura, que sequer começou a ser investigada. A linguagem utilizada no texto é clara, mas utiliza linguagem que extrapola os resultados alcançados pelos estudos envolvendo a tecnologia, tais como “cortar um pedaço do tumor”; “poupando pacientes de efeitos colaterais”.
Apresenta dados de estudos científicos publicados, informando a referência e discutindo as limitações da evidência?
Satisfatória
Apresentou-se um estudo científico publicado na revista americana “The Lancet Oncology”, conduzido em humanos, mas com uma amostra pouco representativa. Os pesquisadores ressaltam e discutem esta limitação, informando a necessidade de se realizar outros estudos com amostras maiores e tipos variados de câncer, de modo a obter maior precisão e confiabilidade dos resultados apresentados pela nova tecnologia. Entretanto, nenhuma informação em relação à continuidade da pesquisa foi fornecida. Destaca-se ainda a existência de um relato de um caso no texto, com citação de informações pessoais e outros detalhes pouco objetivos, fato que não agregou informações baseadas em evidências científicas.
Olhar Jornalístico
TÍTULO: Apresenta um exame como alternativa para diagnóstico de câncer. Sem dar detalhes do exame e da disponibilidade dele no país a informação do título cria expectativa no leitor.
INTERTÍTULO: Traz os potenciais benefícios do exame, mas sem comparação com os demais já existentes.
FONTES DE INFORMAÇÃO: Traz a assinatura “com NEW YORK TIMES” ou seja, texto baseado nas apurações e no próprio texto do jornal norte-americano. Não houve o posicionamento de outras fontes além daquelas que já fazem parte do estudo.
PUBLICIDADE/ CONFLITO DE INTERESSE: Aparentemente não houve indícios de publicidade.
DEFINIÇÃO: A reportagem é clara e descreve a estratégia de se fazer a biópsia liquida (avaliação do DNA do câncer do paciente) no lugar da tradicional. No entanto, faz ponderações quando a eficácia ainda dessa técnica. Traz resultados positivos de um caso específico de uma paciente.
RECURSOS VISUAIS: Apenas fotografia – sem infográficos e detalhamentos que ajudam o leitor a entender melhor a técnica.
CONCLUSÃO: A reportagem é bem completa e focada na definição do teste e no que já existe atualmente. Não traz um panorama da situação do câncer no país e no exterior. Não cita, também, a disponibilização do teste no Brasil e nem a pretensão de quando ele poderá chegar ao país, por ainda estar em fase de testes no exterior.
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